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sexta-feira, 1 de outubro de 2010
Os 60 anos da TV brasileira
EMANUEL SOARES CARNEIRO
A televisão aberta completou 60 anos no país dia 18. Desde a primeira transmissão da TV Tupi, em São Paulo, na iniciativa ousada de Assis Chateaubriand, a evolução tecnológica, o arrojo empresarial e o talento dos nossos profissionais fizeram da TV brasileira um case de padrão internacional.
Com penetração em 95,7% dos domicílios (2009, Pnad/IBGE), esse meio popular por vocação tem sido capaz de integrar milhões de pessoas, valorizar as realidades regionais e darlhes acesso gratuito a informação, cultura e entretenimento. Seu papel para o fortalecimento da identidade nacional é incontestável.
Nos mais longínquos rincões é possível encontrar cidadãos que se conectam com o restante do Brasil e com o mundo por intermédio de seu televisor, e, independentemente de classe social ou nível de instrução, têm acesso às mesmas informações.
Em entrevista à revista “Época”, em 2006, o sociólogo francês Dominique Wolton afirmou que a televisão provocou, nos últimos anos, uma revolução na vida de milhões de pessoas. Para ele, que é um dos mais respeitados especialistas em comunicação no mundo, a TV “produz uma cultura mediana acessível, sensibiliza o telespectador para outras culturas e reflete o mundo contemporâneo”, instigando o cidadão a buscar informação e conhecimento antes ignorados.
Nas palavras de Wolton, a “cultura televisiva popular” é, em síntese, o que as pessoas têm em comum, mas que ao ser repartida entre os pares fortalece a noção de democracia.
Dessa forma, a TV promove um indiscutível processo de evolução social, como observamos no Brasil nestas últimas décadas.
Dados de uma recente pesquisa encomendada à empresa Meta pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), sobre o acesso à informação e a formação da opinião da população brasileira, mostram que as percepções de Wolton em relação ao papel desse meio de comunicação estão corretas.
A pesquisa revela, por exemplo, que para 66,3% das pessoas a televisão aberta é o meio de comunicação mais relevante para buscar informação, e para 69,4% é a mídia mais confiável.
Quanto à programação, 64,6% dos entrevistados consideram os telejornais os programas mais importantes, seguidos das novelas, com 16,4%. O levantamento ouviu 12 mil pessoas, em 639 cidades de cinco regiões do país.
Com noticiários, reportagens, entrevistas e debates entre candidatos, a TV tem sido fundamental também para a consolidação da democracia.
Além de prover informação e promover a discussão de temas de interesse nacional, é com a produção regular de séries e campanhas de utilidade pública que esse meio estabelece compromisso com as demandas sociais, seja de dimensão nacional ou comunitária, de qualquer pequena cidade interiorana.
Isso só é possível graças ao modelo federativo de radiodifusão, semelhante ao que acontece em outros países de dimensões continentais.
Baseado no conceito de redes de programação básica, ele combina grandes centros de produção, dotados de tecnologia avançada e profissionais altamente qualificados, capazes de fornecer conteúdo a milhares de emissoras e municípios. O mesmo acontece no sentido inverso — as emissoras afiliadas às redes nacionais contribuem com a sua visão regional e local.
Marcado pela diversidade e pluralidade, esse modelo compreende 496 emissoras de televisão, sendo 295 comerciais e 201 educativas, e mais de 5.000 estações retransmissoras. A indústria televisiva brasileira gera mais de 200 mil postos de trabalho, diretos e indiretos, produz 70 mil horas/ano e, apenas em programas jornalísticos, 180 mil horas/ano. Cerca de 70% desse conteúdo é nacional — 90% se considerado apenas o horário nobre.
Uma das grandes contribuições do setor é, por certo, de estímulo ao desenvolvimento econômico e social do país. Estudo da empresa Tendências Consultoria Integrada, realizado em 2007, com base no conceito econométrico, verificou que a inserção de meios de comunicação, entre eles, a TV, tem efeito positivo sobre o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
A televisão leva informação sobre tendências de mercado, oportunidades de trabalho, novos produtos e tecnologias, contribuindo para o desenvolvimento dos mercados regionais e locais. Esse modelo dá oportunidade às pequenas e às médias empresas anunciarem seus produtos e serviços localmente a um custo adequado a sua realidade financeira, alcançando público-alvo, melhorando suas vendas e gerando empregos.
Até 2012, teremos disseminado no Brasil o padrão digital de televisão que, mais do que qualidade superior de imagem e som, permitirá o avanço da mobilidade e da portabilidade, ou seja, a capacidade de o telespectador receber o sinal em aparelhos portáteis ou celulares. O sistema nipobrasileiro também se internacionaliza, sendo adotado até o momento por 11 países.
É um passo decisivo para a inserção da TV no ambiente de acelerada convergência tecnológica, que permitirá cada vez mais o acesso a voz, vídeo, dados e texto nas mais variadas plataformas. Portanto, ao completar 60 anos de existência, percebemos que a televisão brasileira continua forte e rejuvenescida, cumprindo o seu papel para o crescimento econômico e a consolidação da democracia.
EMANUEL SOARES CARNEIRO é presidente da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão — Abert.
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Jornal Zero Hora
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